Ucrânia pressionada a explicar possível execução de uma dezena de soldados russos

O Ministério da Defesa russo acusa a Ucrânia de um crime de guerra pela alegada execução de dez soldados que já se teriam rendido.

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Encontro entre forças ucranianas e russas deu-se numa propriedade da vila de Makiivka, na região de Lugansk EPA/STANISLAV KOZLIUK

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos apelou a Kiev que investigue um possível caso de execução de soldados russos, levado a cabo pelas Forças Armadas na região de Lugansk e que constituiria um crime de guerra.

A suposta execução foi denunciada na sexta-feira Ministério da Defesa da Rússia, referindo um vídeo que circulava nas redes sociais russas que mostrava a execução de prisioneiros de guerra russos.

O Comissário dos Direitos Humanos do Parlamento ucraniano, Dmitro Lubinets, reagiu à acusação durante o fim-de-semana, referindo que se tratava de uma farsa montada por Moscovo e que os soldados russos abriram fogo durante a rendição. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos já anunciou que vai investigar o caso e sugeriu a Kiev fizesse o mesmo. À agência Reuters, Marta Hurtado, porta-voz do gabinete de Direitos Humanos da ONU, confirmou que os vídeos estavam a ser analisados.

“Estamos a par dos vídeos e estamos a investigá-los. As alegações de execuções sumárias de pessoas hors de combat [fora de combate] devem ser investigadas pronta, completa e efectivamente, e quaisquer perpetradores devem ser responsabilizados”, acrescentou.

Outros vídeos da mesma situação, gravados por soldados ucranianos, também circularam nas redes sociais, primeiro partilhados por canais ucranianos enaltecendo a capacidade das suas Forças Armadas e, posteriormente, por contas russas para solicitar uma investigação.

De acordo com o jornal The New York Times, que verificou a autenticidade das gravações, os vídeos mostram “cenas horríveis antes e depois do encontro” entre os dois lados do confronto, algures em meados deste mês. “Pelo menos 11 russos, a maioria dos quais são vistos deitados no chão, parecem ter sido mortos a tiro à queima-roupa, depois de um dos seus companheiros de combate ter subitamente aberto fogo sobre soldados ucranianos que se encontravam nas proximidades”, descreve o jornal.

As mortes ocorreram na aldeia de Makiivka, na região de Lugansk, numa zona de combate em que os russos sofreram pesadas baixas. O The New York Times confirmou que os vídeos foram gravados numa quinta da vila, comparando os vídeos com imagens de satélite. O jornal norte-americano refere que o encontro entre as forças ucranianas e os russos mortos foi registado com o telemóvel de um dos soldados ucranianos. O embate também foi gravado por um drone de reconhecimento, uma prática habitual das unidades ucranianas na frente de batalha.

Os vídeos mostram um pelotão ucraniano a entrar no pátio de uma propriedade e vários militares russos a sair da casa com as mãos no ar, deitando-se alinhados de cara no chão. Isto até um soldado russo sair da casa a abrir fogo sobre os ucranianos. Um outro vídeo, com vista aérea sobre o incidente, mostra o local instantes depois, com todos os russos mortos.

Caso se confirme que os soldados se tinham rendido e deposto as armas, o caso pode tratar-se de um crime de guerra, de acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI). Este documento, que instituiu o TPI, em 1998, considera crime de guerra, entre outros, uma situação em que é provocada “a morte ou ferimentos a um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido”.

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