Cartas ao director

COP27 – cimeira do quê?

Triste. A COP27 não foi uma cimeira sobre as alterações climáticas. Foi uma cimeira sobre cash, o bom velho dinheiro. Não se discutiu o que fazer para resolver o problema das alterações climáticas, mas sim quem paga o resultado do falhanço na resolução do problema…

É como fazer uma cimeira para discutir a sinistralidade automóvel e em vez de discutir o que fazer para haver menos mortos, discutir quem paga e quanto se paga às famílias dos mortos e estropiados devido à sinistralidade… Muito triste. Os políticos que temos transformaram uma cimeira sobre as alterações climáticas numa cimeira sobre dinheiro. Suponho que na COP47 (ou 57) se discuta quem paga os bilhetes da nave espacial para fugir da Terra para outro planeta.

Leiam o que disse Franz Timmermans, citado ontem no PÚBLICO. Absolutamente claro. E assustador.

Fernando Vieira, Lisboa

Espelho do Qatar incomoda

Toda esta celeuma criada à volta do Mundial de futebol no Qatar provoca o maior espanto, atendendo aos muitos anos de conhecimento de que a competição se realizaria nesta altura e que o regime qatari era já o que é agora. Durante todos estes anos ninguém pôs em causa, com tamanha veemência como nestes dias, a legitimidade de realização da prova naquele emirado.

Chegou a altura em que ninguém se quer ver ao espelho. Incomoda mirarem-se na sua incapacidade! É que, então como agora, os direitos humanos marcam passo no Qatar, a construção dos estádios foi gerando cemitérios de trabalhadores mortos nas obras, a ditadura tentacular dominante não abrandou. Só agora é que as opiniões envergonhadas querem fazer em poucos dias, o que não conseguiram em anos. Parecem desculpas de mau pagador. Aqui chegados, confrontados com esta culpa e com a sua vergonha, que os países participantes se empenhem no sucesso desportivo, ao mesmo tempo que as suas diplomacias tratem de acelerar as vias de influência no combate ao que de muito mal reconheçam existir na postura social e política do Qatar. Mais valerá tarde do que nunca.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

O regresso das cassetes

Preparem os antigos rádios leitores de cassetes, está a chegar bom material que pode fazer renascer este mercado, pois não há nada mais agradável do que enrolar a fita de cassete com a ponta de um lápis. O PCP mudou de secretário-geral, mas a música parece ser a mesma, ultrapassada, com pouca qualidade de som e a dificuldade em mudar de faixa.

Um walkman portátil também vai fazer jeito para ouvir os áudios de Donald Trump, agora que anunciou a sua terceira candidatura à Casa Branca com a mesma música gravada de sempre, “trazer a América de volta”. Com a cassete do futebol no Qatar gravada pelas estridentes “ronaldetes” de serviço, esquece-se o aumento do custo de vida em Portugal, o aumento do preço dos combustíveis, a inflação, o preço dos bens essenciais, a privação material, as dificuldades em pagar a prestação ou renda de casa, a luz e a água.

Emanuel Caetano, Ermesinde

Perguntar não ofende

A propósito do livro do ex-governador do Banco de Portugal, lembro-me de, uns dias antes do “estoiro” do Banco Espírito Santo (BES), o então Presidente da República, Cavaco Silva, ter respondido publicamente para as televisões e ter afirmado, categoricamente, que não havia nenhum problema com o BES. Os depositantes privilegiados, certamente mais esclarecidos e informados, devem ter levantado os seus depósitos muito antes. Mas os emigrantes e outros depositantes menos informados, claro, acreditaram no Presidente da República. Coitados, perderam o trabalho de uma vida por terras de França e outros países europeus.

Alguém acredita que o Presidente da República faça uma afirmação sobre o estado do maior banco português, sobre o qual corria informação de falência, sem que antes se tivesse informado directamente com o governador do Banco de Portugal? Não li o livro do ex-governador. Será que refere este triste episódio sobre o BES?

Elder Fernandes, Lisboa

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