Consumo de “gás hilariante” está a subir na Europa e preocupa em Portugal

Óxido nitroso integrou a lista de substâncias psicoactivas proibidas em Setembro. Mesmo assim, autoridades reportaram este ano 35 ocorrências relacionadas com o consumo e a venda ilegal deste gás.

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O óxido nitroso é, desde Setembro, considerada uma substância psicoativa de venda proibida Nuno Ferreira Santos

O óxido nitroso, também conhecido como “gás hilariante”, provoca uma sensação de euforia, relaxamento e dissociação da realidade e o seu consumo em contextos recreativos está a aumentar na Europa, segundo o mais recente relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), que aponta para os riscos associados ao uso indevido de um gás que é “fácil de obter, barato e popular” entre os jovens.

Em Portugal não há registo de intoxicações associadas ao consumo de óxido nitroso. A substância, aliás, integra desde Setembro passado a lista de substâncias psicoactivas de venda proibida. A decisão surgiu da constatação de que a substância usada como anestésico em meio hospitalar, mas também pela indústria alimentar, estava a ser usada de modo recreativo em festas, “pelos seus efeitos euforizantes, analgésicos e ansiolíticos”, como se lê na respectiva portaria, em que o Governo alerta que o uso prolongado deste gás pode provocar sérios danos no sistema imunitário e alterações na memória entre outros danos neurológicos.

Mas a prova de que Portugal não escapa à tendência europeia para o aumento do recurso a este gás em contextos recreativos é o número considerável de apreensões de óxido nitroso por parte das autoridades policiais, nomeadamente em bares e festas de rua. Em Junho, a GNR de Sintra apreendeu dez botijas de óxido nitroso numa festa ilegal. Um mês depois, em Faro, a GNR apreendeu mais oito botijas contendo aquela substância.

No total, e ao longo deste ano, as autoridades policiais reportaram um total de 35 ocorrências relacionadas com o consumo e venda ilegal da substância. No ano anterior, tinha havido 93 ocorrências, com a apreensão de entre 300 e 400 botijas ou cartuchos, nomeadamente em Lisboa, Setúbal e Faro, segundo se lê no relatório, que aponta a comercialização da substância em lojas e estabelecimentos de catering e o seu uso em festas espontâneas, na rua ou em residências particulares, por vezes na sequência de contactos estabelecidos via Internet.

Danos podem ser graves

Em países como a Dinamarca, os casos de intoxicação por óxido nitroso aumentaram de 16 em 2015 para os 73 do ano passado. Em França registaram-se 134 casos em 2020 – muito acima dos dez casos de 2017. E nos Países Baixos houve 144 intoxicações registadas em 2020. Além dos danos no sistema nervoso, estas intoxicações traduzem-se na desactivação irreversível da vitamina B12 no organismo (essencial para o funcionamento saudável dos nervos), em danos pulmonares e em queimaduras graves causadas pelo gás frio no momento em que é libertado do recipiente.

“Existe a percepção geral entre os consumidores de que a inalação do óxido nitroso é segura. Só que quando o consumo é mais frequente ou mais intensivo o risco de danos graves aumenta”, alerta o director do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, Alexis Goosdeel, no referido relatório. Conclui que é por isso “importante evitar a normalização e a promoção do seu consumo em contextos recreativos”, o que apela ao reforço da monitorização do óxido nitroso, sem prejudicar o seu uso pela medicina e pela indústria alimentar.

O óxido nitroso, refira-se, pode ser adquirido em cartuchos de oito gramas normalmente utilizados para encher balões a partir dos quais o gás é inalado e a sua comercialização em lojas de conveniência e supermercados justifica-se pelo seu uso na indústria alimentar, na qual os cartuchos são usados como propulsores de aerossóis para fazer chantilly.

No Reino Unido, e ainda segundo o relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, o óxido nitroso tornou-se já a segunda substância psicoactiva mais consumida entre os jovens, logo a seguir à cannabis, normalmente por via inalada através de balões. Entre 2013 e 2017, ocorreram em média cinco mortes por ano imputáveis à inalação do óxido nitroso.

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