Berlim investiga alegado envenenamento de jornalistas russas no exílio

Autoridades alemãs estão a investigar possível envenenamento de duas jornalistas russas que participavam numa conferência organizada por Mikhail Khodorkovsky, conhecido opositor do Kremlin.

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Uma das jornalistas russas recebeu tratamento no hospital Charité, em Berlim, onde Alexei Navalny esteve internado em 2020 após ser envenenado com Novichok EPA/FILIP SINGER
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As autoridades alemãs anunciaram este domingo a abertura de uma investigação por suspeitas de envenenamento de duas jornalistas de nacionalidade russa que estiveram em Berlim no mês passado para uma conferência organizada por Mikhail Khodorkovsky, conhecido opositor do Kremlin.

"Foi aberta uma investigação. O caso está em andamento", confirmou um porta-voz do departamento de investigação criminal da polícia de Berlim à imprensa alemã, depois de ser publicada uma reportagem do Proekt, projecto russo independente de jornalismo de investigação.

As duas jornalistas tiveram sintomas semelhantes, possivelmente por envenenamento, na altura do evento de Khodorkovsky, no final de Abril. Uma delas, Natalia Arno, fundadora da Free Russia Foundation, descreveu "sintomas estranhos", dores e dormência em várias partes do corpo, que começaram em Berlim e pioraram nos dias seguintes, depois de viajar para a República Checa.

Após um dia de reuniões em Praga, Natalia Arno terá chegado ao seu quarto de hotel e encontrado a porta entreaberta. Ao entrar sentiu um "cheiro peculiar", parecido ao de um "perfume barato", descreve na sua página de Facebook. Voltou a sair do hotel para outro compromisso e ao regressar já não havia qualquer odor. "Acordei às 5 da manhã com uma dor aguda e sintomas estranhos. Ainda não tinha pensado na hipótese de envenenamento, tinha a certeza de que só precisava de ir ao médico."

Por isso, antecipou o regresso aos Estados Unidos, onde está exilada há quase dez anos, e dirigiu-se às urgências de um hospital para receber tratamento. "Quero avisar a comunidade russa pró democracia e antiguerra exilada para não baixar a guarda", alertou. "Não conseguirão intimidar-nos nem silenciar-nos. Sabemos perfeitamente que o inimigo é perigoso, violento e criminoso." Duas semanas depois, quando explicou a situação nas redes sociais, Natalia Arno já só sentia alguma dormência no corpo.

Uma outra jornalista, cujo nome não foi divulgado, e que participou no mesmo evento em Berlim, também se terá sentido mal nesses dias, acabando por receber assistência médica no hospital Charité na capital alemã.

Foi, aliás, neste hospital onde, há quase três anos, esteve internado Alexei Navalny, um dos rostos mais conhecidos da oposição a Vladimir Putin, depois de ter sido envenenado com um agente nervoso do mesmo grupo do Novichok.

O envenenamento com recurso a um agente nervoso é também a suspeita de Natalia Arno quanto aos próprios sintomas, numa estratégia já famosa do Kremlin para silenciar os seus adversários.

Ainda que Moscovo negue o envolvimento nestes casos, entre as vítimas ou sobreviventes de envenenamento estão o espião russo Serguei Skripal e a filha Yulia; o activista e opositor do Kremlin Vladimir Kara-Murza; o político ucraniano pró-Ocidente Viktor Iushchenko; ou Alexander Litvinenko, ex-KGB e crítico de Vladimir Putin. Todos estavam exilados.

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